Eu não odeio tecnologia

May 8, 2025 Updated on May 26, 2025

Não sempre, mas ainda frequente o bastante, eu começo a conversar alguém, a pessoa comenta sobre me mandar algo no Instagram, Tiktok ou Twitter e eu digo que não costumo usar ou não tenho um perfil, dependendo da rede social; Então, a pessoa me pergunta o porquê e eu digo "Eu odeio tecnologia."

Eu entendo a reação das pessoas, é, no mínimo, um pouco confuso da minha parte, eu estudo computação, falo sobre quando não é nem necessário, uso computadores e algumas redes sociais quase diariamente (Ex: Youtube, Hacker News e Whatsapp), como assim eu odeio tecnologia?

Demorou um pouco para admitir para mim mesmo, mas não faz sentido porque eu não odeio tecnologia, o que eu sinto é frustração e um pouco de desapontamento com o quanto a minha relação com tecnologia mudou, como ela não pode ser mais o que era antes.

Um notebook novo costumava ser um evento familiar, era empolgante ver tudo que ele podia fazer que máquinas que já tinha visto antes não podiam, testar todos os programas pré-instalados nele, especialmente os inúteis; Colocar um CD de revista com dezenas de programas e jogos, passar algumas semanas testando alguns por dia e atrapalhando meus pais; O quanto eu fiquei impressionado a primeira vez que eu ouvi uma música estéreo e percebi que dois sons diferentes podiam sair da mesma entrada, num único fio. O computador era uma máquina de procurar e achar, eu me divertia nas suas limitações.

Agora, tem muito mais que eu acho, tecnicamente ou não, interessante, mas eu me pego precisando justificar esses gostos, em termos de validade e utilidade, tenho que assistir todo o resto sendo a norma, isso sempre me chateia.

Reitero: Eu não odeio tecnologia, só quero outras formas dela, mais inconvenientes e menos apelo geral, mídia que eu possa segurar nas mãos e emprestar para alguém, programas com público-alvo de meia dúzia de pessoas e feitos para serem usados de vez em quando, como newsletters com atualizações das vidas dos meus amigos, mandar cartas, aplicativos de mensagens que nós fizemos para nós mesmos, espaços exclusivos e limitados, extensões diretas dos meus círculos sociais analógicos.

Não é que isso não existe, esse site em si é o meu espaço e tentativa de espalhar os cantos onde encontro isso, de fazer a internet um teco mais interessante para mim mesmo, mas nunca recuperarei a inocência de achar que isto é a norma.

Eu quero que tecnologia e programas sejam legais e tenho que me contentar com eles sendo comercialmente viáveis, isso é o meu amor.

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